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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Causos da vida, relembrando ou passagens.

Por Fabio da Silva Barbosa.

Já fiz muita merda para arrumar uns trocados, sustentar a família e minhas ideias. Com certeza, umas das piores lembranças são de quando permiti a aproximação de políticos partidários, tentando conseguir apoio para projetos sociais e culturais que desenvolvia de forma independente. Era muito desgastante. Tentei várias siglas, mas todas se mostraram exatamente iguais quando a corda apertava o pescoço. Chegavam mansinhos, dizendo gostar da idéia e coisa e tal... Quando iam dar a grana, o apoio a cultura e ao social ia por água abaixo e começava a contrapartida. Foi uma das oportunidades que tive de confirmar que tudo funciona exatamente como eu penso. E ficava lembrando os mais velhos dizendo quando eu era adolescente: “Um dia você vai ver que não é bem assim que o mundo funciona”. Como queria que estivessem certos. Cheguei a recusar grana de um cara tendo a luz da minha casa cortada por falta de pagamento. E isso tudo não era porque desejava ser santo. Nunca tive vocação para santidade. Foi apenas minha escolha. Fiz o que tinha de fazer. Não quis participar desse mundo podre. Até hoje não me arrependi.

Muito tempo depois de entender que não tinha temperamento para trabalhar com essas figuras, estava no supermercado e avistei o assessor de um desses caras. Entrei pelo corredor dos enlatados para não ter o desprazer do encontro. Passei no caixa, paguei as compras e saí do mercado. Pronto. Estava salvo. Ao respirar aliviado, senti a mão no meu ombro.
- E aí? Viu a vitória que tivemos nas últimas eleições? Não quis caminhar com a gente...
- Vitória? Ganhar as eleições quando se tem dinheiro para campanha não é o mais difícil. Eu quero ver agora.
- Agora está tudo bem. Tá todo mundo tranqüilo.
- Tranquilo? Como assim tranquilo? Os desabrigados das últimas chuvas continuam sem solução para seus problemas, quem produz cultura na cidade tá fudido, a especulação imobiliária continua ganhando dinheiro sem dar nada em troca pelo lugar que a enriquece, muito pelo contrário...
Ele começou a olhar com cara de quem não entendia nada do que eu estava falando.
- Se você estivesse com a gente, ia estar tranqüilo também.
- É realmente lamentável que alguém na sua idade possa achar que está tudo bem em viver pendurado no saco de político. Sabendo que esses caras estão ganhando dinheiro às custas do sofrimento alheio. Se eu fosse você, teria vergonha de vir falar que está tudo tranqüilo.
Virei a esquina e segui caminho. Ele ficou lá, olhando para os lados, sem saber para onde ir.

Quando estava produzindo o Comunidade Editoria e o Impresso das Comunidades, era recebido com desconfiança nas primeiras visitas em certas comunidades. O pessoal já estava escaldado e perguntava logo se eu havia sido enviado por algum político ou instituição. Explicava que não era nada disso e que estava fazendo algo que simplesmente gostava, da maneira que achava certo. Aí que a desconfiança aumentava. Depois de muita pergunta e de ver que eu não tirava nenhuma vantagem política ou financeira com a iniciativa, vinha a pergunta:
- Então, por que você faz isso?
Realmente era difícil explicar que estava exercendo minha profissão de jornalista da forma que eu acreditava. As pessoas estão condicionadas a só fazerem algo que lhe proporcione vantagem material e não conseguem ter a mínima percepção que podemos ter muito mais que isso.
OBS: Antes que alguém pense que eu estava nadando em dinheiro e que isso era apenas hobby, aviso que, nessa época, estava tão duro quanto hoje. Fazia esse trabalho com toda dedicação e compromisso. Descobri no trabalho alternativo/independente um sentido para a vida. Algo muito mais consistente do que a maioria adota como realidade e necessidade.

Um comentário:

  1. Somos fragmentos literários,
    Fábio da Silva Barbosa,
    meu amigo,
    justamente porque a gente
    não se vende
    nas mais variadas
    situações dessa vida.
    Admiro você.
    Em frente, sempre.

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